sábado, 16 de maio de 2009

Impressões de Inhotim

Inhotim é, sem dúvida, um dos lugares mais bonitos que já visitei em minha vida. Dia 8 de maio foi uma experiência incrível, tanto pelo intercâmbio de informações e sensações entre os alunos, quanto pela tentativa de um olhar diferenciado para as obras. Em outras cinrcunstâncias, eu nunca ficaria no interior de uma galeria por mais de quinze minutos. Dessa vez, fiquei por uma hora e com a sensação de que ainda havia muito mais para ser descoberto ali.
Não tive a oportunidade de vasculhar todo o espaço; optei, conforme nos foi proposto, por levar o tempo necessário analisando cada obra de modo específico. Faz-se extremamente necessário o registro de alguns pontos que foram os mais importantes para mim.
Não cheguei a ver Cosmococa ou O colecionador. No entanto, Através e Glove Trotter sim. A primeira é muito convidativa; é praticamente instintivo chegar na sala, ouvir os barulhos de vidro e, imediatamente, se inserir por entre os obstáculos. Num primeiro momento, fui atraída diretamente para a grande bola de papel celofone, que recebe a iluminação central. Essa luz vai ficando mais incipiente à medida que vamos nos afastamos desse centro, aproximando-nos da periferia. O meu vagar pela obra veio depois, acompanhando essa gradação luminosa. É possível perceber que entre obstáculos mais externos são por onde as pessoas menos passam devido aos grandes pedaços de vidro existentes. Já a parte central chega a possuir cacos bem pequenos, confirmando a maior fama da bola. Minha leitura é da prória gradação dos problemas humanos. No entanto, todos obstáculos permitem que você veja através deles: a bola, a solução, sempre estará visível e poderá ser almejada. Ao olhar para baixo, você vê imagens suas fragmentadas. Talvez isso explicite as diversas faces que um homem pode ter. Ao sair da obra, o silêncio incomoda; acostumamo-nos com o barulho estilhaçador do pisar. É como se o certo fosse a comunicação com a obra, como se ela pedisse que voltássemos para ela.
A segunda, Glove Trotte, levou-me a pensar na existência do infinito; com os olhos semi-cerrados a sensação de você estar em um espaço sem fim é muito forte, garantido pelas paredes pretas. Isso é interessante porque foi a menor sala que visitei que me pareceu a maior de todas. O contraste, aqui, é entre o físico e o sensorial. Ao entrar na sala, deparamo-nos com um outro mundo, é como se desligássemos da realidade exterior. Eu tive a sensação de estar totalmente suspensa no desconhecido, sem qualquer contato com o plausível.
Foi na galeria de Doris Salcedo onde passei o maior tempo. Fui até lá com um grupo de, aproximadamente, 10 pessoas e a discussão foi muito rica. Ao chegarmos, a sensação geral foi de grande vertigem e ilusão de óptica. Logo depois, todos nós caminhamos em direção à parede para vermos o que era aquilo que causava tanto estranhamento. Era apenas uma grade encaixada em uma parede de gesso. Mas, na verdade, como saber quem foi colocada primeiro? Essa indefinição nos acompanha o tempo todo lá dentro, tanto que somos instigados a imaginar coisas para suprir a ausência de informação explícita. Houve pessoas que, ao fixarem o olhar em um ponto, visualizaram um fluxo indefinido horizontal, colunas verticais movendo, quadrados amarelos, dentre outros. No decorrer dos minutos, acostumamo-nos com a sensação vertiginosa, não mais inquietante. Como a grade remete à prisão, gaiola ou campos de concentração, talvez seja isto que aconteça com aqueles que vivem essa realidade: com o passar do tempo, chega a acomodação, o costume já que não há mais nada a ser feito mesmo.
Pela foto, a galeria da Adriana Varejão pareceu-me infinitamente maior do que a real, além do espelho d'água. Foi um engraçado chegar até ela e descobrir que as dimensões imaginadas eram totalmente errôneas. Nela, encantei-me com Celacanto provoca maremoto. Pela foto no site, pensava que a obra acontecia apenas na junção entre duas paredes, mas deparar com quatro paredes azulejadas foi uma surpresa bem agradável. Eu não tenho uma explicação muito plausível a oferecer, mas azulejo sempre me remeteu a algo conchegante e seguro. Talvez por lembrar-me da casa de minha vó, decorada dessa forma. As fissuras do azulejo, contudo, trouxeram algo a mais: elas trazem a ideia de quebra das ondas do mar e também contratam-se, para mim, com a sensação de aconchego descrito. E descobrir anjos barrocos no meio das ondas foi divertido. Eu nunca os encontraria através de uma imagem digital apenas.
True Rouge abre um espaço incrível para a imaginação. Do lado de fora, eu poderia jurar que encontraria lá dentro anjos sangrando, mas, ao entrar na galeria, eu propriamente me considerei uma louca por ter pensado isso. Não é possível definir o que está suspenso nem se essas coisas convergem ou divergem do centro. Quem sabe ássaros? O vermelho, maciçamente presente, não causou em mim qualquer perturbação como eu imaginava causar. Muito pelo contrário, trouxe vida e beleza. Provavelmente, se a galeria não fosse transparente, conectada à paisagem tranquila do exterior, isso mudaria.
Como última observação, não poderia deixar de citar Forty Part Motet. Não vou falar nada sobre ela, porque é extremamente necessário que todo mundo que tenha a oportunidade conheça-a. Só um parêntese: é a coisa mais emocionante e linda.

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