Conforme proposto na primeira aula de Plástica e expressão gráfica, aqui estão os verbetes:
Flanêur: Esse termo trabalhado, entre outros, por Charles Baudelaire e Walter Benjamin, surgiu no final do século XIX. Do francês, aquele que perambula, que caminha. No entanto, muito mais do que apenas andar por um determinado espaço físico, o flanêur tem capacidade de percepção aguçada para aquilo que, diversas vezes, passa despercebido pelas pessoas. Através de um olhar, antes de tudo, curioso, mas também diferenciado, ele acompanha a evolução do cenário diário ao andar sem rumo por aí, seja essa evolução arquitetônica, relacionada aos próprios transeuntes, pessoal, política, econômica, cultural. É a observação o principal instrumento que lhe permite elaborar críticas, idéias e teses sobre o que é percebido em um simples “passeio”. Apesar de anônimo, o material que ele coleta lhe permite expandir sua visão sobre o externo, sobre o outro, fazendo com que ele entenda muito mais sobre a sociedade em si. Enquanto, na cidade, outros tantos caminham ou, literalmente, até correm na tentativa de suprimir seus anseios, necessidades e obrigações, o flanêur é capaz de sentir e apreciar o que está ao seu redor sem preocupações, sem horários estabelecidos, sem regras.
Para ilustrar a figura do flanêur, o livro A alma encantadora das ruas, de João do Rio, é um ótimo exemplo. Muro pichado em Rio Branco, AC - Um flanêur não veria, apenas, palavras e desenhos aqui
Deriva: A (teoria da) deriva foi proposta por Guy Debord, um situacionista* que procurou trazer uma nova forma de descoberta da cidade. A prática da deriva consiste pura e simplesmente na entrega total do seu corpo ao inconsciente, deixando que o mesmo seja o condutor pelo espaço físico. A motivação que garante o trajeto de quem pratica a deriva são, apenas, sensações que vão surgindo ao longo dos ambientes percorridos. Dessa forma, procura-se combater a alienação e a rotina previamente estabelecida, procurando despertar um outro olhar sobre o que nos cerca. Para registrar as experiênciais sensoriais vividas naquele determinado momento, é válido traçar um "mapa das sensações" com anotações, enquanto a pessoa é levada por sua própria manifestação inconsciente.
*Em termos bem breves, o situacionismo foi um movimento vanguardista de cunho artístico e político do século XX, tendo como base a contraposição ao consumismo.
Parkour/Le Parkour: Tal prática/esporte/arte contemporânea consiste em rápidos deslocamentos em meio ao cenário urbano como escaladas de prédios, saltos e até mesmo cambalhotas no ar, sendo que todos os movimentos recebem algum tipo de nome.
Sebastien Foucan executando um movimento chamado Saut de Bras
Para aqueles que praticam o parkour - ‘traceur’ para homens e ‘traceuses’ para mulheres - fundado por David Belle, o obstáculo não existe, ou melhor, pode ser sempre "driblado". Certas vezes, obstáculo pode até ser confundido com o próprio praticante, já que, devido à velocidade dos movimentos, é possível ver a fusão dos dois. O treinamento físico e mental (muita, muita concentração) é extremamente necessário para que ninguém saia machucado.
Nada melhor do que um vídeo, ainda que um pouco cortado, para traduzir palavras:
Cena do filme 007 - Casino Royale
É impossível imaginar vários praticantes realizando suas "manobras" no meio urbano como algo cotidiano. Embora a idéia que gira em torno da faceta seja a de você ser capaz de alcançar qualquer ponto desejado, independente do que encontrar pela frente, imaginar pessoas em massa praticando-a livremente é realmente díficil. Além disso, ao contrário de um flanêur ou de um praticante da deriva, a capacidade de traçar alguma crítica ou observação pessoal em relação ao que o circunda é falha.
Apenas como observação, é interessante ressaltar a influência francesa sobre cada um dos verbetes abordados.
Referências: